Como a corrupção corrói o sistema público sul-coreano, com magnatas cada vez mais fortes e influentes dentro da politica.
Nota Inicial: Como lembrete ao Naufrágio do Sewol, a KoreaIN traz à luz esta matéria de caráter acadêmico que foi escrita em 2014 para nossa revista. O artigo demonstra como a corrupção pode ter relação com o desastre marítimo.
Não é novidade que a República da
Coreia é um dos países mais dinâmicos quando se trata de crescimento econômico.
Só na ultima década o país viu seu PIB (Produto Interno Bruto) crescer mais de
38% de acordo com o Banco Mundial[1].
Esse crescimento econômico gera uma quantidade maior de pessoas com grande
influência econômica, e fortalece aqueles que já possuíam riqueza, os deixando
mais ricos.
Até o próprio dono da Samsung já foi
alvo de investigações contra corrupção. Em 2008, Lee Kun-Hee foi condenado pelo
governo sul-coreano devido ao escândalo de evasão de divisas. Em 2010 foi
perdoado pelo governo e retornou a sua empresa.
É importante entender que a
corrupção é algo cultural, e o que aqui pode ser considerado como ato de
corrupção, em outros países pode ser apenas um agrado para facilitar tramites
legais. Em países que, historicamente, tiveram influência cultural chinesa,
“presentes” eram comuns para facilitar alguma negociação entre o mercante e a
autoridade local. Neste contexto a Coreia não foge do problema.
Em 1998, a OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico), da qual a República da Coreia faz
parte, aprovou um acordo para o combate internacional de propinas e corrupção
por parte de agentes públicos. Com isso, o país tomou decisões mais duras para
o combate de propinas, criminalizando qualquer tipo de ação suspeita e tomando
medidas legais como confisco e provisões de responsabilidade legal[2].
Segundo o Ranking Internacional de
Percepção da corrupção, a Coreia do Sul está em 42º, atrás de países como Cabo
Verde e Taiwan. Vale ressaltar que o ranking não trata sobre se o país é ou não
efetivamente corrupto, e sim de como a população percebe a corrupção de seus
governantes. Isso revela uma realidade preocupante, que podemos associar com a
do Brasil: A falta de confiança da população em seus políticos.
Os
10 países mais transparentes do mundo[3]
1
|
Dinamarca
|
|||||
1
|
Nova Zelândia
|
|||||
3
|
Finlândia
|
|||||
3
|
Suécia
|
|||||
5
|
Noruega
|
|||||
5
|
Singapura
|
|||||
7
|
Suíça
|
|||||
8
|
Holanda
|
|||||
9
|
Austrália
|
|||||
9
|
Canadá
|
|||||
11
|
Luxemburgo
|
Posição da Coreia do Sul[4]
33
|
Portugal
|
|||||
33
|
Puerto Rico
|
|||||
33
|
São Vicente e Grenadines
|
|||||
36
|
Israel
|
|||||
36
|
Taiwan
|
|||||
38
|
Brunei
|
|||||
38
|
Polônia
|
|||||
40
|
Espanha
|
|||||
41
|
Cabo Verde
|
|||||
41
|
Dominica
|
|||||
43
|
Lituânia
|
|||||
43
|
Eslovênia
|
|||||
45
|
Malta
|
|||||
46
|
Coreia do Sul
|
Mapa-múndi
com os países mais corruptos e menos corruptos[5]
Os países em amarelo são tidos
como os menos corruptos. Quanto mais próximo da cor vermelha, mais a percepção
da corrupção por parte da população.
Naufrágio do Sewol
Capitão Lee Jong Seok indo a julgamento
[UPDATE: O capitão foi julgado e sentenciado a prisão perpétua]
O dono Yoo Byung-Eon, logo após o naufrágio, se tornou foragido, mas foi encontrado e levado a julgamento por corrupção.
Uma das acusações é de que Yoo e
Song Kook-In (diretor de vendas da Dapanda) retiraram dinheiro da companhia
operadora do Sewol (Cheonghaejin Marine), comprometendo os trabalhos da
empresa. O promotor do caso acusa também Yoo de retirar dinheiro da empresa,
deixando-a em situação comprometida, desviando-o para sua família, para que vivessem
no luxo.
No dia 24 de julho, Yoo foi
encontrado morto em sua casa (provavelmente suicídio), complicando ainda mais o
caso[6].
A corrupção na Coreia do Sul chegou
a um ponto crítico em que falhas em agências regulatórias possibilitaram que o
Sewol continuasse navegando. Segundo autoridades, “era uma tragédia anunciada”,
que trouxe à tona as falhas das agências coreanas de regulação e segurança. E
não foi primeira a ser causada por falhas de fiscalização e regulamentação. Em
1995, o desabamento da loja de departamento Sampoong mostrou que, desde muito
tempo, agências de fiscalização e segurança precisam ser mudadas para que
desastres já previstos não aconteçam.
Queda da loja de departamentos Sampoong
Em caráter de comparação, no Brasil
o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (Rio Grande
do Sul), ocorrido em 27 de janeiro de 2013, que matou 242 pessoas e feriu 116
outras, se tornando a segunda maior tragédia do Brasil em número de vítimas. [7] [8] O acidente foi causado
pelo acendimento de um sinalizador, por parte de um integrante da banda que se
apresentava no dia. A falta de fiscalização e regulamentação permitiram que a
casa noturna funcionasse com o alvará de funcionamento vencido e a não
regulamentação do uso de materiais pirotécnicos na parte interna,
caracterizando uma sucessão de erros, uma tragédia anunciada[9].
Após o ocorrido, promessas foram feitas pela
presidente Park para reestruturar o governo, devido o ocorrido a imagem do partido conservador Saenuri (da atual presidente) foi abalado.[10]
As mudanças provavelmente irão
acontecer lentamente, e espera-se que o julgamento seja mais rápido que essas
mudanças. Assim como no caso do Brasil, uma reforma politica não acontece tão
facilmente devido a conflito de interesses das várias partes envolvidas.
Por Caio Garcia
Não retirar sem devidos créditos
Nenhum comentário:
Postar um comentário