17 de abril de 2016

Coreia do Sul, um tigre machucado: Crescimento econômico não é sinônimo de transparência

Como a corrupção corrói o sistema público sul-coreano, com magnatas cada vez mais fortes e influentes dentro da politica. 

Nota Inicial: Como lembrete ao Naufrágio do Sewol, a KoreaIN traz à luz esta matéria de caráter acadêmico que foi escrita em 2014 para nossa revista. O artigo demonstra como a corrupção pode ter relação com o desastre marítimo.

            Não é novidade que a República da Coreia é um dos países mais dinâmicos quando se trata de crescimento econômico. Só na ultima década o país viu seu PIB (Produto Interno Bruto) crescer mais de 38% de acordo com o Banco Mundial[1]. Esse crescimento econômico gera uma quantidade maior de pessoas com grande influência econômica, e fortalece aqueles que já possuíam riqueza, os deixando mais ricos.
            Até o próprio dono da Samsung já foi alvo de investigações contra corrupção. Em 2008, Lee Kun-Hee foi condenado pelo governo sul-coreano devido ao escândalo de evasão de divisas. Em 2010 foi perdoado pelo governo e retornou a sua empresa.
            É importante entender que a corrupção é algo cultural, e o que aqui pode ser considerado como ato de corrupção, em outros países pode ser apenas um agrado para facilitar tramites legais. Em países que, historicamente, tiveram influência cultural chinesa, “presentes” eram comuns para facilitar alguma negociação entre o mercante e a autoridade local. Neste contexto a Coreia não foge do problema.
            Em 1998, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), da qual a República da Coreia faz parte, aprovou um acordo para o combate internacional de propinas e corrupção por parte de agentes públicos. Com isso, o país tomou decisões mais duras para o combate de propinas, criminalizando qualquer tipo de ação suspeita e tomando medidas legais como confisco e provisões de responsabilidade legal[2].
            Segundo o Ranking Internacional de Percepção da corrupção, a Coreia do Sul está em 42º, atrás de países como Cabo Verde e Taiwan. Vale ressaltar que o ranking não trata sobre se o país é ou não efetivamente corrupto, e sim de como a população percebe a corrupção de seus governantes. Isso revela uma realidade preocupante, que podemos associar com a do Brasil: A falta de confiança da população em seus políticos.

Os 10 países mais transparentes do mundo[3]      

1
Dinamarca





1
Nova Zelândia





3
Finlândia





3
Suécia





5
Noruega





5
Singapura





7
Suíça





8
Holanda





9
Austrália





9
Canadá





11
Luxemburgo







Posição da Coreia do Sul[4]

33
Portugal





33
Puerto Rico





33
São Vicente e Grenadines





36
Israel





36
Taiwan





38
Brunei





38
Polônia





40
Espanha





41
Cabo Verde





41
Dominica





43
Lituânia





43
Eslovênia





45
Malta





46
Coreia do Sul







Mapa-múndi com os países mais corruptos e menos corruptos[5]
Os países em amarelo são tidos como os menos corruptos. Quanto mais próximo da cor vermelha, mais a percepção da corrupção por parte da população.

             Essa desconfiança da população com seus políticos aumentou ainda mais com o naufrágio do navio Sewol, em 16 de abril de 2014. A tragédia abriu um caso sem precedentes na justiça coreana. As criticas da população pelo caso não se restringiram somente ao comandante do barco e sua tripulação, mas também ao poder judiciário, agências reguladoras do país e até mesmo a presidente Park Geun-Hye, do partido conservador Saenuri. Segundo a rede Aljazeera, coreanos reagiram na internet dizendo que até a presidente do país deveria ser julgada pelo caso.

Naufrágio do Sewol

Capitão Lee Jong Seok indo a julgamento
[UPDATE: O capitão foi julgado e sentenciado a prisão perpétua]

O dono Yoo Byung-Eon, logo após o naufrágio, se tornou foragido, mas foi encontrado e levado a julgamento por corrupção.
            Uma das acusações é de que Yoo e Song Kook-In (diretor de vendas da Dapanda) retiraram dinheiro da companhia operadora do Sewol (Cheonghaejin Marine), comprometendo os trabalhos da empresa. O promotor do caso acusa também Yoo de retirar dinheiro da empresa, deixando-a em situação comprometida, desviando-o para sua família, para que vivessem no luxo.
            No dia 24 de julho, Yoo foi encontrado morto em sua casa (provavelmente suicídio), complicando ainda mais o caso[6].
            A corrupção na Coreia do Sul chegou a um ponto crítico em que falhas em agências regulatórias possibilitaram que o Sewol continuasse navegando. Segundo autoridades, “era uma tragédia anunciada”, que trouxe à tona as falhas das agências coreanas de regulação e segurança. E não foi primeira a ser causada por falhas de fiscalização e regulamentação. Em 1995, o desabamento da loja de departamento Sampoong mostrou que, desde muito tempo, agências de fiscalização e segurança precisam ser mudadas para que desastres já previstos não aconteçam.


Queda da loja de departamentos Sampoong

            Em caráter de comparação, no Brasil o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (Rio Grande do Sul), ocorrido em 27 de janeiro de 2013, que matou 242 pessoas e feriu 116 outras, se tornando a segunda maior tragédia do Brasil em número de vítimas. [7] [8] O acidente foi causado pelo acendimento de um sinalizador, por parte de um integrante da banda que se apresentava no dia. A falta de fiscalização e regulamentação permitiram que a casa noturna funcionasse com o alvará de funcionamento vencido e a não regulamentação do uso de materiais pirotécnicos na parte interna, caracterizando uma sucessão de erros, uma tragédia anunciada[9].
             Após o ocorrido, promessas foram feitas pela presidente Park para reestruturar o governo, devido o ocorrido a imagem do partido conservador Saenuri (da atual presidente) foi abalado.[10]
            As mudanças provavelmente irão acontecer lentamente, e espera-se que o julgamento seja mais rápido que essas mudanças. Assim como no caso do Brasil, uma reforma politica não acontece tão facilmente devido a conflito de interesses das várias partes envolvidas.





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